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sexta-feira, 21 de março de 2014

O respeito pelo Eu Inferior



Na Índia antiga, o guerreiro
Rajput jurava por sua espada e seu escudo

Não basta adotar ideias corretas.

É preciso observar como nos relacionamos com elas. Uma visão superficial ou mecânica de conceitos filosóficos corretos é mais do que suficiente para provocar desastres ao longo do caminho.

Muitos falam, por exemplo, da necessidade de inegoísmo e auto-esquecimento em teosofia. Estas são duas ideias importantes. Mas elas devem ser administradas com cuidado, porque os seus alicerces são um completo autoconhecimento e um cuidadoso controle de si mesmo.

Em “Cartas dos Mestres de Sabedoria” vemos um Mahatma citar palavras de Alfred Tennyson ao referir-se a três fatores decisivos no esforço teosófico:

“Auto-respeito, autoconhecimento e autocontrole”. [1]

É verdade que o auto-esquecimento é indispensável, quando se decide trilhar o caminho da sabedoria. Ao mesmo tempo, o eu inferior ou alma mortal é um instrumento necessário para a expressão prática daquele nível de consciência em que ocorre o auto-esquecimento.

O verdadeiro auto-respeito inclui uma correta consideração pelo veículo que chamamos de “personalidade”. A inteligência inferior é valiosa. Ela tenta ser útil à nossa consciência mais elevada. Só a ignorância temporariamente presente no eu inferior deve ser combatida, de modo calmo e gradual, até desaparecer.  

Será correto rir dos nossos próprios erros? Sim, às vezes, e com moderação. A verdade é que ao longo do caminho os pensamentos e ações da personalidade passam a viver em harmonia crescente com o clima criado pelo fato de que o eu inferior se reconhece como um instrumento consciente da Alma imortal. Nosso eu “inferior” é, portanto, muito mais do que uma “máscara” ou “casca”. É um santuário, e pode ser protegido de influências e pensamentos destrutivos.   Helena Blavatsky escreveu:

“Só a sempre desconhecida e incognoscível Karana, a Causa Sem Causa de todas as causas, merece ter um altar e um santuário no solo sagrado e jamais pisado do nosso coração.” [2]

A personalidade “inferior” é um templo habitado por uma inteligência divina. Portanto, o aprendiz deve cuidar construtivamente do clima psicológico vivido pelo seu “eu pessoal”.  A qualidade dos seus sentimentos e pensamentos não melhora através de ódio ou desprezo pelo eu inferior.  A melhora ocorre através da consideração e do estímulo positivo. Ideias ou ações que não se harmonizem com o papel da personalidade como veículo do eu superior devem ser reconhecidos como expressões de desrespeito pela vida.

O aspecto mais importante do processo de auto-respeito é o sentimento que o aprendiz de teosofia tem pela voz da sua própria consciência, pela sua alma imortal, a essência do seu ser,  seu Atma, sua Mônada.

Como toda forma de luz, o respeito brilha em todas as direções. A consideração por si mesmo é a base do sentimento fraterno que o estudante passa a ter por todos os seres. Tanto os aspectos celestiais como as dimensões terrestres da vida merecem um cuidado amistoso, e estes dois níveis do sentimento de respeito são inseparáveis entre si.   De certo modo, o ser humano é o antahkarana, a ponte, entre os níveis superiores e inferiores da vida. Um indivíduo é sobretudo o foco central  do campo de consciência que anima a sua própria aura.

O que se planta, se colhe. Se a consideração por si mesmo produz um sentimento de respeito por todos, a recíproca é verdadeira. Com o tempo, passam a ser necessárias uma atenção e uma vigilância ampliadas por parte daqueles com quem o estudante de filosofia se relaciona. Em cada circunstância da vida, a interação correta entre a personalidade do estudante e outros indivíduos deve ter como base o princípio do respeito mútuo, não no terreno da mera cortesia social, mas no nível durável da profunda sinceridade.   

Quando adotamos esta visão multidimensional do processo de auto-respeito, fica mais fácil perceber que a autodisciplina não é um ato de força unilateral. Ela não resulta de uma imposição de fora para dentro. Ela surge naturalmente da afinidade com a ideia de uma vida correta e altruísta. Assim, a prática equilibrada da autodisciplina expressa uma profunda estima do estudante por sua própria personalidade.

Estes três fatores da vida, mencionados em um velho poema de Tennyson, parecem resumir o caminho da Raja Ioga: auto-respeito, autoconhecimento e autocontrole. No entanto, nenhum progresso real em Raja Ioga é fácil. Há sempre um duro combate a ser enfrentado. A mente é como uma espada, segundo a tradição zen-budista. Na Índia antiga, um guerreiro rajput fazia seus juramentos solenes pela sua espada e seu escudo. [3] E o Dhammapada ensina:

“Do mesmo modo como o produtor de  flechas torna sua flecha reta, o sábio torna reto o seu pensamento  distorcido.” [4]

A verdade é que assim como um guerreiro eficiente ama sua espada, um arqueiro ama o seu arco, e um barqueiro, o seu barco, a filosofia esotérica ensina que um teosofista aprende a amar, a respeitar, e treinar, o seu próprio eu inferior.

Carlos Cardoso Aveline

NOTAS:

[1] Carta IV para Laura Holloway, no volume “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, compiladas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília.

[2] Traduzimos esta frase diretamente da edição original de “The Secret Doctrine”, de Helena P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume I, p. 280.

[3] Veja, por exemplo, o livro clássico “Annals & Antiquities of Rajasthan”, de James Tod.

[4] “O Dhammapada”, Capítulo 3, Verso 01. O Dhammapada completo pode ser encontrado em seção temática independente no website www.FilosofiaEsoterica.com


A ilustração que abre o artigo acima foi reproduzida do livro “Annals & Antiquities of Rajashtan”, de James Tod, Selected and Abridged by E. Jaiwant Paul, Roli Books, New Delhi, India, 2008, 141 pp.

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