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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cabala - Kabbalah



Cabala (também Kabbalah, Qabbala, cabbala, cabbalah, kabala, kabalah, kabbala) é um sistema religioso-filosófico que investiga a natureza divina. Kabbalah (קבלה QBLH) é uma palavra de origem hebraica que significa recepção. É a vertente mística do judaísmo.

A "Cabala" é uma doutrina esotérica que visa conhecer a Deus e o Universo, sendo afirmado que nos chegou como uma revelação para eleger santos de um passado remoto, e reservada apenas a alguns privilegiados.

Formas antigas de misticismo judaico consistiam inicialmente de doutrina empírica. Mais tarde, sob a influência da filosofia neoplatônica e neopitagórica, assumiu um carácter especulativo.

Na era medieval desenvolveu-se bastante com o surgimento do texto místico Sefer Yetzirah (ou Sheper Bahir - que significa Livro da Luz), do qual há menção antes do século XIII. Porém, o mais antigo monumento literário sobre a Cabala é o Livro da Formação (Sepher Yetsirah), considerado anterior ao século VI, onde se defende a ideia de que o mundo é a emanação de Deus.

Transformou-se em objeto de estudo sistemático do eleito, chamado o "baale ha-kabbalah-kabbalah" (בעלי הקבלה "possuidores ou mestres da Cabala"). Os estudantes da Cabala tornaram-se mais tarde conhecidos como maskilim (משכילים "o iniciado"). Do décimo terceiro século em diante ramificou-se em uma literatura extensiva, ao lado e frequentemente na oposição ao Talmud.

O primeiro livro na Cabala a ser escrito, existente ainda hoje, é o Sefer Yetzirah ("Livro da criação"). Os primeiros comentários sobre este pequeno livro foram escritos durante o século X, e o texto em si é citado desde o século VI. Sua origem histórica não é clara. Como muitos textos místicos Judeus, o Sefer Yetzirah foi escrito de uma maneira que pode parecer insignificante para aqueles que o leem sem um conhecimento maior sobre o Tanakh (Bíblia Judaica) e o Midrash.

Outra obra muito importante dentro do misticismo judeu é o Bahir ("iluminação"), também conhecido como "O Midrash do Rabino Nehuniah ben haKana", com aproximadamente 12.000 palavras. Publicado pela primeira vez em 1176 em Provença, muitos judeus ortodoxos acreditam que o autor foi o Rabino Nehuniah ben haKana, um sábio Talmúdico do século I. Historiadores mostraram que o livro aparentemente foi escrito não muito antes de ter sido publicado.

O trabalho mais importante do misticismo judeu é o Zohar (זהר "Esplendor"). Trata-se de um comentário esotérico e místico sobre o Torah, escrito em aramaico. A tradição ortodoxa judaica afirma que foi escrito pelo Rabino Shimon ben Yohai durante o século II. No século XII, um judeu espanhol chamado Moshe de Leon declarou ter descoberto o texto do Zohar; o texto foi então publicado e distribuído por todo o mundo judeu. Célebre historiador e estudante da Cabala, Gershom Scholem mostrou que o próprio de Leon era o autor do Zohar. Entre suas provas, uma era que o texto usava a gramática e estruturas frasais da língua espanhola do século XII, e que o autor não tinha um conhecimento exato de Israel. O Zohar contém e elabora sobre muito do material encontrado no Sefer Yetzirah e no Sefer Bahir, e sem dúvida é a obra cabalística por excelência.


Cabala:
o caminho para o encontro com a Criação

Envolta em mistérios de acesso antigamente restrito apenas aos homens, o termo Cabala já teve má reputação na língua portuguesa, vinculado a conceitos de maquinação secreta e até à magia negra. Mas ela nada mais é do que uma corrente mística da religião judaica que busca levar o homem para mais perto de Deus.

DÉBORA LERRER

A Cabala é uma das correntes místicas do judaísmo. O termo significa literalmente recepção e, por consequência, tradição. O primeiro cabalista seria o patriarca Abraham, que viu as maravilhas da existência humana, perguntou questões ao Criador e os mundos mais elevados foram revelados a ele. O conhecimento que ele adquiriu e o método que ele usou para aprendê-lo foram passados para seus descendentes e a Cabala foi sendo transmitida oralmente durante séculos.

O primeiro trabalho sobre a Cabala, o Sefer Yetzirah, o Livro da Criação, é atribuído a Abraham. Este texto básico da Cabala explica os 32 caminhos da sabedoria que foram utilizados no processo da Criação. Estes caminhos estão incluídos nas dez Sefirot, as luzes divinas, que agem como canais criativos e conscientes da criação, e nas 22 letras do alfabeto hebraico. As letras são os alicerces, os vasos, e incluem todas as combinações e permutações através das quais Deus criou o mundo com palavras. A Cabala ensina que as palavras, combinações e permutações de letras são vasos através dos quais o processo criativo se realiza. 

"A Cabala procura essencialmente descobrir a origem de tudo o que existe: o mundo, o ser humano, a vida, a morte, e elevar o ser humano espiritualmente para ele poder entrar em contato com Deus", explica o rabino Yehuda Busquila, da Congregação Israelita Paulista. 

Sete gerações depois de Abraham, no Monte Sinai, a Torá - nome pelos qual a Bíblia é chamada pelos judeus - foi entregue em duas dimensões a Moisés: a parte pública, que nós conhecemos, com o corpo de leis que expressam as vontades de Deus e que compõem o Pentateuco, e uma parte secreta, com a compreensão dos segredos da criação.

Desenvolvimento

Ao longo dos séculos a busca pela Cabala seguiu um movimento pendular, partindo de períodos de grande interesse e produção cabalística para períodos em que ela ficou totalmente restrita a pequenos círculos de estudo. 

De acordo com a tradição, o primeiro grande período de sistematização deste conhecimento ocorreu durante o século III, quando o livro Zohar ("Livro do Esplendor") teria sido escrito pelo rabi Shimon Bar Yochai (150 D.C -230 D.C), o Rashbi, pupilo do rabi Akiva ( 40 D.C - 160 C.E). Bar Yochai e quatro outros foram os únicos a sobreviverem ao massacre de 24 mil discípulos de Rabi Akiva, sendo autorizado por ele e pelo rabi Yehuda Bem Baba a ensinar a Cabala às gerações futuras. Após a prisão de rabi Akiva, o Rashbi escapou com seu filho, Eliezer. Ambos ficaram escondidos em uma caverna por 13 anos, de onde saíram com o Zohar, livro escrito em forma de parábolas e em aramaico, língua que era falada nos tempos bíblicos e que seria o lado oculto do hebraico.

O Zohar explica que o desenvolvimento humano é dividido em 6000 anos, durante o qual as almas seguem um contínuo processo de desenvolvimento a cada geração. No fim do processo, todas as almas alcançam a posição chamada "o fim da correção", o mais alto nível de espiritualidade e completude.

Shimon Bar Yohai foi um dos grandes de sua geração. Ele escreveu e interpretou muitos temas cabalistas e é conhecidos até hoje. Entretanto, de acordo com a lenda, o Zohar desapareceu depois dele, sendo mantido escondido em uma caverna nas vizinhanças de Safed em Israel. Achado depois pelos árabes que residiam na área, o Zohar foi reconhecido por um cabalista de Safed, que havia comprado um peixe embrulhado naquele papel de incalculável valor no mercado. Depois de comprar o resto daquela páginas preciosas, ele as reuniu em um volume. Somente no século XIII é que estes escritos vieram à luz, publicados pelo Rabino Moisés de Leon, de Castela, durante o florescimento da Cabala na Península Ibérica. Até então, o estudo do Zohar vinha sendo conduzido secretamente por pequenos grupos. Hoje em dia, estudos mais acadêmicos, como o de Gershom Sholem, apontam que o autor, de fato, do Zohar teria sido o próprio De Leon.

Outro grande momento da Cabala foi o período de Ari, o rabi Yitzhak Luria. Nascido em Jerusalém mas criado no Egito, ele trabalhava com comércio, mas devotou grande parte de seu tempo ao estudo da Cabala. Uma lenda conta que ele passou sete anos isolado na ilha da Roda no Nilo, onde, além do Zohar, estudou livros dos primeiros cabalistas e escritos de outro grande sábio de sua geração, o Rabi Moshe Cordovero, o Ramak.

Em 1570 ele foi para Safed, em Israel. Bastaram somente dois anos, já que ele morreu em 1572, aos 38, para que Luria tivesse sua grandiosidade reconhecida, a ponto de todos os estudiosos de Safed terem ido estudar com ele. Exemplos de seus escritos famosos são "A Árvore da Vida", "O Portal das Intenções", "O Portal da Reencarnação". Em seus estudos, Ari desenvolveu o primeiro mito cabalista conhecido, que compreende o primeiro auto-desenvolvimento de Deus, a criação do universo e da humanidade, as origens do mal e, o mais importante, um método para reparar o mal (tikkun) e restaurar a unidade original de Deus e da criação. No fim, ele instituiu um sistema elaborado de meditação e práticas rituais para conectar a humanidade com o divino. Alguns dos hinos e práticas da escola de Luria são usados até hoje. Através da larga publicação do trabalho de seus discípulos, a Cabala de Ari se espalhou por todo o mundo judaico, tornando-se não somente a forma mais aceita da Cabala, mas de todo o Judaísmo, na medida em que isso é possível. 

"A religião judaica incorporou muito da parte mística", explica o rabino Adrian Godfrid, da Comunidade Shalom, de São Paulo. Segundo ele, o serviço de sexta-feira à noite, realizado em todas as sinagogas do mundo, o chamado Kabbalah Shabat, foi instituído pelos místicos de Safed. Até mesmo um dos hinos mais conhecidos deste ritual, o Leha Dodi, foi concebido por Shlomo Alevi, um destes místicos, durante um transe.

No século XIII, foi a vez do movimento Hassídico inspirar nova vida no misticismo judaico, tornando-o acessível para uma larga audiência. O Hassidismo vem da palavra hebraica hasid, que quer dizer pio, e é baseado nos ensinamentos do curandeiro judeu polonês Israel Bem Eliezer (1700-1760), conhecido como Baal Shem Tov. Ele ganhou o respeito dos judeus pobres e oprimidos socialmente por insistir que a melhor maneira de alcançar Deus não era através do estudo avançado do Talmud ou das complicadas fórmulas de meditação de Luria, mas pela prática simples e sincera da devoção na reza, associada a alegres canções, danças e histórias. Embora ele não fosse rabino, Shem Tov conseguiu atrair muitos rabinos para seu círculo. Após duas gerações, centenas de rabinos elaboraram os ensinamentos de Shem Tov, atraindo mais discípulos e fundando "dinastias" de sucessão, assim promovendo o nascimento do movimento hassídico. Na época do auge deste movimento, quase todo grande rabino era um cabalista. Com o passar dos anos, o hassidismo foi se tornado exatamente o contrário, esquecendo-se de sua fonte original e tornando-se praticamente indistinguível do judaísmo tradicional. Junto a esta descaracterização da essência do hassidismo, a crescente secularização do judaísmo contribuiu novamente para isolar o misticismo judaico, cujo interesse veio a renascer novamente no final do século XX.

Quem pode estudar

Antigamente, havia o conceito de que as pessoas não poderiam estudar a Cabala, de que era um segredo perigoso, e de que ela só poderia ser estudada a partir dos 40 anos.

"A mística tem a ver com aspectos muito profundos da personalidade, e esta tradição de estudar a partir dos 40 anos existe porque, teoricamente, a pessoa estará mais estruturada psicologicamente para poder entender outras coisas, um pouco mais ocultas", explica o rabino Adrian Godfrid. O fundamental, entretanto, para os estudiosos judeus, é que o interessado na Cabala tenha passado por todos os outros níveis de leitura da Torá e todos os outros clássicos do judaísmo como o Talmud. "Se subentende que a pessoa nesta idade já passou muitos anos estudando os outros níveis, pois se você não passou por isso, você não entende nada".

Para o rabino Yehuda Busquila, a Cabala deve ser estudada por todos aqueles que tiverem condições de estudá-la. "Seus ensinamentos deveriam ser abertos a todo mundo, porque eles encerram coisas que a gente não sabe e nos trazem respostas que a gente não encontra no mundo lógico, no mundo da razão, pois a Cabala é especulativa, não é normativa". Para ele, até se chegar à Cabala, o interessado também deve passar por algumas etapas. "É como dar alimento para uma criança. Primeiro você dá a mama, depois mamadeira, sopinha, um purezinho. Até ele mastigar um bife vai levar algum tempo. É a mesma coisa com o estudo da Cabala".

Palavras e Números

Um interpretador cristão da Cabala, o português D. Francisco Manoel de Mello, escreveu em seu "Tratado da Ciência da Cabala" que a língua hebraica é de origem celeste, pois nela falou Deus aos Patriarcas e ela serviu de instrumento aos divinos oráculos da antiguidade. Daí se infere que as palavras, letras e números representativos dessa linguagem contêm virtudes intrínsecas, próprias exclusivamente dela.

Na Cabala hebraica realmente promove-se a linguagem, de simples meio de comunicação entre os homens em instrumento essencial da cosmogonia: "Disse Deus: haja luz - e houve luz", escreve o Gênesis. A criação, pois, efetivou-se através do poder místico da palavra. 

De acordo com o rabino Yehuda Busquila, para os cabalistas todos nós somos números, já que todas as letras judaicas têm um correspondente numérico.

"As letras do alfabeto hebraico têm um valor numérico e todos nós temos um nome que é composto com estas letras. Somos números e o nome que nos é atribuído, quando nascemos, tem alguma coisa da essência divina, já que todas as letras fazem parte do nome de Deus", diz Busquila. A numerologia da Cabala é baseada na interpretação do significados dos nomes, e como todas as criaturas têm nome, e portanto são números, ela pode tratar de todos os fenômenos que existem no universo. 

Cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico possui um valor numérico que varia de 1 a 400. O cálculo da equivalência numérica das letras, palavras e frases propicia a descoberta de inter-relações de diferentes conceitos e exploração de inter-relacionamento entre palavras e idéias. Para a Cabala, as equivalências numéricas não são coincidências. Desde que o mundo foi criado através da "palavra" divina, cada letra representa uma diferente força criativa. Portanto, a equivalência numérica de duas palavras revela uma conexão interna entre o potencial criativo de cada uma. 

Para o rabino Adrian Godfrid, a numerologia é um tipo de interpretação, "uma ferramenta hermenêutica". Para ele, ela não é o centro e não pode ser vista isolada do contexto judaico. "Faz sentido entender que o valor numérico das letras fala alguma coisa no contexto judaico, mas quando você faz isso para ver que número vai dar na Sena, aí você está fazendo um negócio que não tem nada a ver com isso. O contexto foi violentado".

Sefirot - atributos, virtudes, qualidades divinas

A Cabala trata dos nomes de Deus e da força inserida nas letras que o compõem. Seu objetivo é elevar o ser humano espiritualmente para ele poder entrar em conexão com Deus, e, para isso, ele deve ultrapassar algumas etapas, as Sefirot, um diagrama que representa os atributos, as virtudes e qualidades divinas e que pode ser entendido como um canal para o divino. De acordo com Gershom Sholem no "Livro da Criação", do qual foi originalmente tomado, Sefirot simplesmente significava números, mas com o gradual desenvolvimento da terminologia mística passou a ser traduzido aproximadamente por "esferas" ou "regiões", mudando sua acepção até que passou a significar a emergência de poderes, virtudes e emanações divinas. 

Na Cabala, Deus é chamado de Ayin, que significa "Nada", em hebraico. Por estar além da existência, Deus é o infinito, pois incorpora tudo que existe e que existirá. Tudo que importa vem de Ayin Sof e volta no fim para ele que é o nada absoluto. Apesar de Ayin Sof em si mesmo ser além de qualquer compreensão, ele se faz conhecer através das dez Sefirot.

O ato divino é visualizado simbolicamente com a ideia de que do Ayin Sof, ou da Luz Infinita que envolve o vazio, emana um feixe de luz que penetra da periferia em direção ao centro. Este feixe de vontade divina se manifesta em dez etapas de emanação. Desde a Idade Média, estes dez estágios são chamados de Sefirot e expressam os atributos divinos.

A estrutura do diagrama da Sefirot, que algumas interpretações chamam de Árvore da Vida, contém todas as leis que governam a existência, porque revela o processo universal de equilíbrio entre o alto e o baixo, os princípios ativos (direita) e os passivos (esquerda). O influxo divino pode ser traçado em detalhes ao longo dos caminhos entre as Sefirot (designados pelas 22 letras do alfabeto judaico) e através das tríades que os ligam uns aos outros. As cores aqui distinguem entre as tríades funcionais ou laterais (vermelho ativo e azul passivo) e as tríades centrais, que denotam níveis de consciência e vontade (verde, violeta, e amarelo).

Os quatro grandes círculos representam os níveis dentro de uma única Árvore, que corresponde às quatro dimensões da realidade ou simbolicamente à raiz, tronco, galhos e frutos ou às quatro letras do mais especial nome de Deus, YHVH. Estes círculos também foram vistos como níveis ou degraus. O primeiro, associado com o fogo, está perto da Coroa (Keter) e é visto como pura Vontade (chamado de Deus). O segundo, associado com o ar, simboliza o Intelecto (a criação Divina). O terceiro nível, associado com a água, é visto como uma expressão da Emoção (a formação Divina). O quarto e último, associado com a Terra, fala da ação, das implementações práticas de tudo que houve antes (ação Divina). Apesar de ser altamente complexa, a Árvore da Vida é uma imagem da Unidade Divina. 

Para a Cabala, o fluxo divino através das Sefirot para os quatro mundos da humanidade não é o único caminho. Ou seja, não são somente as ações divinas que têm impacto sobre nós: nossas ações individuais também repercutem cosmicamente e ajudam na reparação do Universo, pois Deus precisa do universo e da humanidade para ser verdadeiramente Deus, para alcançar todo seu potencial divino. Se Deus não tivesse necessidade do universo, porque ele o teria criado? - perguntam os cabalistas.

PODER DA CABALA

Gilberto Schoereder - Revista Sexto Sentido nº 22

A sabedoria milenar da Cabala — inicialmente transmitida apenas de forma oral e a pouquíssimas pessoas — apresenta uma forma de interpretar as Sagradas Escrituras de forma a revelar conhecimentos ocultos nas palavras e que não podem ser compreendidos a partir de uma interpretação literal dos textos. Desta maneira, o Velho Testamento não é entendido simplesmente como um relato de acontecimentos ocorridos há milhares de anos, mas como uma das formas mais bem elaboradas e herméticas de transmissão de informações, que podem estar ao alcance daqueles que estudarem a decodificação dos símbolos.

Já houve épocas em que o estudo da Cabala era bastante restrito, o que está mudando um pouco nos tempos recentes. Para falar mais sobre esse conhecimento, a Revista Sexto Sentido entrevistou o professor Shmuel Lemle, tradutor do livro O Poder da Cabala, e responsável pelo Centro de Cabala do Rio de Janeiro.

O senhor pode nos dizer o que é a Cabala?

A Cabala é uma antiga sabedoria espiritual baseada num livro chamado Zohar. A sabedoria do Zohar é universal — provê conhecimento e ferramentas para toda a humanidade, que são tão úteis hoje como eram há milhares de anos. Esse conhecimento e essas ferramentas podem ser aplicados por pessoas de todas as religiões e práticas espirituais. A Cabala proporciona a metodologia, instruções e ferramentas para ajudar as pessoas a alcançarem a auto-realização, a plenitude espiritual, e um fim para o sofrimento e o caos. O Zohar, escrito há 2 mil anos, explica os mistérios da vida e os códigos secretos da Bíblia.

Qual a relação — se é que existe — entre a Cabala, a religião judaica e as religiões que dela derivaram, como a católica?

O Zohar é um guia para a Bíblia que foi dada a Moisés no Monte Sinai, quando ele recebeu os Dez Mandamentos e a Torá. A Cabala explica os segredos e o verdadeiro significado das histórias da Bíblia, revelando sua sabedoria e espiritualidade, e sua intenção é ajudar a acabar com o caos que assola a humanidade. A Cabala era uma tradição oral originalmente estudada apenas por rabinos, mas seus ensinamentos, derivados do Zohar, eram para toda a humanidade, não importando a origem religiosa ou espiritual. Na verdade, a Cabala nos ensina todos os porquês por trás da prática religiosa.

Como se chega ao estudo da Cabala? Como a pessoa se inicia?

O Centro de Cabala oferece cursos desde o nível iniciante até níveis mais avançados de estudo. O curso para iniciantes, chamado Introdução à Cabala 1, cobre assuntos como as origens do universo, o sentido da vida, e como transformar nossos hábitos negativos, reativos, em comportamento proativo. Os cursos mais avançados penetram nos estudos da vida após a morte, relacionamentos, desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual. Outros cursos são dados sobre saúde e cura, como criar milagres na vida, oração e meditação, e a ciência da astrologia cabalística.

Antigamente se dizia que mulheres não podiam estudar a Cabala, e que quem estudasse antes dos 40 anos ficaria louco. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Se tentássemos explicar a uma pessoa que vivesse na Idade Média a ideia de um aparelho de fax, um telefone celular, ou mesmo da Internet, seriamos rotulados de místicos ou loucos. Hoje, todos nós temos acesso a esses avanços tecnológicos. As ideias da Cabala só podem ser transmitidas para todos agora, porque os avanços da ciência e da consciência nos proporcionam uma linguagem que torna os conceitos espirituais compreensíveis. Podemos falar de interconexão, porque a própria física quântica explica que todos os eventos estão interconectados. Antes não existia uma linguagem para falar sobre esses conceitos, por isso, a Cabala ficava limitada a poucos sábios por geração. Mas o próprio Rabi Isaac Luria, o Ari, que viveu há 500 anos, um dos maiores cabalistas da História — a Cabala estudada hoje se chama Cabala Luriânica em sua homenagem — deixou este mundo com 38 anos. E no Zohar está escrito que na nossa época — a Era Messiânica, Era de Aquário, Nova Era, chame como quiser — até crianças de 6 anos devem aprender Cabala. Agora estamos prontos para receber a sabedoria cósmica do universo.

Existe mais de um tipo de Cabala, ou mais de um tipo de interpretação e aproximação à Cabala?

Existem algumas variações nas interpretações, mas basicamente toda Cabala estudada hoje vem do Ari, Rabi Isaac Luria, e se chama Cabala Luriânica. Existem também níveis de estudo da Cabala. O primeiro nível se chama Taamei Torá — o sabor da Torá — que é o que estudamos, e que pode e deve ser estudado até por crianças. O segundo nível é Sitrei Torá — a parte oculta. Para atingir esse nível, o estudante precisa estar imbuído de um desejo tão grande de aprender que recebe uma revelação direta. Esse nível não pode ser ensinado diretamente, a pessoa tem que chegar no nível de receber a revelação.

Qual a relação entre Cabala e magia?

Algumas pessoas utilizam a Cabala como magia — isto se chama Cabala Maassit, Cabala prática. No Centro de Cabala não estudamos de jeito nenhum esse tipo de Cabala. É muito perigoso mexer com forças espirituais sem saber direito os efeitos colaterais que isso pode causar.

Como se desenvolve a compreensão do cabalista sobre Deus?

O cabalista fala na Luz Infinita. A Luz Infinita não é Deus, mas uma Energia Infinita que emana de Deus. O próprio Deus, segundo os cabalistas, nós não temos capacidade de compreender. A Luz é a Sua emanação, e é este nível que podemos atingir. Os diferentes nomes de Deus que aparecem na Bíblia, segundo os cabalistas, são denominações de diferentes níveis dessa emanação luminosa — as Sefirot. Cada nome está ligado a uma determinada Sefirá — ou um determinado nível de emanação da Luz. Quer dizer, os nomes não indicam o próprio Criador, que é totalmente inatingível, mas diferentes níveis de Suas emanações.

Existe alguma escritura sagrada da Cabala além das antigas escrituras? O estudo da Cabala é centrado em alguma escritura em particular ou em toda a Torá?

Como já dissemos, o principal livro de Cabala é o Zohar, escrito por Rabi Shimon Bar Yohai há 2 mil anos, decifrando os segredos e códigos da Torá. O Zohar foi escrito originalmente em aramaico, e o fundador do Centro de Cabala, Rabi Yehuda Ashlag, traduziu o Zohar por completo para hebraico moderno. Pela primeira vez, está sendo disponibilizada uma tradução completa do Zohar para o inglês. Em português ainda não existe uma versão do Zohar. Mas o primeiro livro de Cabala é ainda anterior à própria Torá. É o Livro da Formação — Sefer Yetzirá — de autoria do Patriarca Abraão. Em forma de código, este livro contém todos os segredos do universo e da Criação. Entre outras coisas, fala de astrologia e do poder energético das letras hebraicas.

O Zohar vai de acordo com a Torá e segue todo o Antigo Testamento, explicando o verdadeiro sentido de cada passagem. Mais tarde, há 500 anos, veio o Rabi Isaac Luria, o Ari, que trouxe uma metodologia mais compreensível para os ensinamentos do Zohar. Seus ensinamentos foram passados para a forma escrita por seu principal aluno, Rabi Chaim Vital, e pelo filho deste, Rabi Shmuel Vital, e se chama Kitvei Ari, os Escritos do Ari.
No século XX, o grande cabalista Rabi Yehuda Ashlag trouxe os ensinamentos do Ari para uma forma ainda mais próxima de nós, pessoas leigas, no Estudo das Dez Emanações Luminosas. Rabi Ashlag, fundador do Centro de Cabala, completou também uma tradução do Zohar do original em aramaico para hebraico moderno.

Os alunos de Cabala aprendem que a presença do Zohar em suas casas proporciona proteção espiritual. O simples fato de ler algumas linhas do Zohar produz um sentido de propósito e paz.

A Torá é o centro de todo o ensinamento. Mas o cabalista frisa o fato de que a Torá é um código. Não pode ser lida de forma literal, pois isto oferece uma compreensão completamente equivocada e contraditória. O trabalho do cabalista é decifrar o código por trás da Torá. O Zohar enfatiza uma crença fundamental da Cabala de que é uma obrigação analisar e questionar as histórias da Bíblia. Com a instrução do Zohar, os segredos dessas histórias são revelados e sua sabedoria pode ser usada para melhorar as vidas de todos.

Como o estudo da Cabala afeta o homem moderno?

Os estudantes aprendem respostas para como vencer o jogo da vida. Utilizando as ferramentas poderosas fornecidas pelo Zohar, o homem pode controlar o caos em sua vida e atingir a plenitude duradoura. Uma vez postos em prática os ensinamentos, os estudantes passam por mudanças positivas em suas vidas.

Qual a relação entre Cabala e ciência?

O cabalista Rav Berg, atual diretor do Centro de Cabala, costuma dizer que a ciência finalmente está alcançando a Cabala. De fato, é impressionante como os últimos avanços da física e da biologia se assemelham aos antigos ensinamentos dos cabalistas. Em busca de uma teoria que unifique a Relatividade de Einstein, que funciona para sistemas macroscópicos, e a Teoria Quântica, que se aplica ao mundo subatômico, a física moderna chegou à Teoria das Supercordas (Superstrings, em inglês). Sem entrar em detalhes, de acordo com essa teoria o universo tem dez dimensões, mas no momento do Big Bang seis delas se compactaram em uma, por isso, só percebemos quatro dimensões (três espaciais e o tempo). É exatamente o que ensina a antiga Cabala. Da mesma forma, a teoria genética, junto com a ideia do DNA, já era explicada de forma bem mais profunda pelos cabalistas. O Rav Berg costuma dizer que a Cabala é a ciência do século 25.

Qual o verdadeiro significado da Árvore da Vida segundo a Cabala?

A Cabala explica que há dois universos paralelos, duas realidades existindo lado a lado. A primeira é a realidade onde o caos predomina, onde existe a lei de Murphy, que diz “tudo que pode dar errado dará errado”. É o mundo dos altos e baixos, onde hoje está tudo bem, mas há completa incerteza quanto ao amanhã. Esta realidade é codificada na Bíblia como “A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. Hoje está bem, amanhã está mal, e assim por diante. A segunda realidade é a Árvore da Vida. Neste nível da realidade, o caos não existe, a própria morte foi cancelada. É a realidade da nossa alma, da Luz plena, da plenitude total, da satisfação completa, da imortalidade. O que determina com qual das duas realidades nos conectamos é a nossa consciência.

Dentro de um entendimento mais profundo da Árvore da Vida, compreendemos que para a Luz Infinita poder se revelar num mundo finito, nos proporcionando o livre arbítrio, era preciso que existissem diferentes níveis de ocultação da Luz, desde um nível em que a Luz está totalmente revelada até o nosso nível físico, em que a Luz está oculta. Existem então dez níveis de revelação ou ocultação da Luz, que são as Dez Sefirot, formando a estrutura conhecida como a Árvore da Vida.

Segundo a Cabala, quais as funções espirituais do homem e da mulher? 

A energia masculina é a energia de compartilhar. A energia feminina é a energia de receber. Tudo no universo tem essas duas forças, dar e receber, Luz e receptor. Quando um professor dá uma aula, está compartilhando com os alunos seu conhecimento. Neste caso, o professor é a Luz e os alunos são o receptor. O professor representa a energia masculina e os alunos, a energia feminina. Quando falamos, estamos revelando nosso pensamento. A fala é o receptor para o pensamento. Sem a fala o pensamento não poderia se expressar. Neste caso, o pensamento é a Luz, a energia masculina, e a fala é o receptor, a energia feminina. Tanto homem quanto mulher são formados pelas duas energias, masculina e feminina. Mas o papel do homem é mais de compartilhar e o da mulher é mais de receber e manifestar a Luz. O homem planta a semente dentro da mulher, que a alimenta e guarda, para fazer a gestação de uma nova vida. As duas energias se complementam, uma precisa da outra. A semente não se manifesta sem a Mãe-Terra. E a Terra não pode cumprir sua função de gerar vida sem a semente. Nenhuma energia é melhor ou pior, superior ou inferior que a outra, mas certamente as energias são diferentes, bem como suas funções.

Aplicação Prática

Apesar do interesse mágico não constituir o centro dos estudos cabalísticos, a utilização da Cabala na magia despertou imenso interesse nos eruditos europeus, especialmente a partir do século XV. Nessa época surgiram muitas obras sobre o tema e também inúmeros cabalistas cristãos, como Pico della Mirandola, Johan Reuchlin, João Pistorius, Cornélio Agrippa e outros.

Muitos preferiram seguir pelo caminho da Cabala prática, a partir da concepção de que as letras e números em que estão escritos os textos sagrados não são apenas signos inventados pelo homem para registrar fatos e pensamentos, mas formas que contêm o poder divino — conforme explica o historiador Kurt Seligmann em seu livro A História da Magia. Assim, a compreensão da Cabala também se firmou como uma forma de exercer as artes mágicas, reconhecendo o poder das palavras.

Segundo Seligmann, o que ocorreu é que enquanto um bom número de eruditos cristãos se dedicavam à especulação metafísica, seguindo os passos dos letrados judeus, outros se sentiram mais atraídos pela aplicação prática dos conhecimentos apresentados nos livros cabalísticos.

É provável que o relato mais fantástico de uma aplicação prática esteja representado pela história do Golem, um ser artificial que teria sido criado em alguns momentos da história a partir do conhecimento cabalístico. A ideia básica é que, assim como Deus tinha criado através da palavra, também se poderia criar um ser artificial dessa maneira. No século XII, conta-se que a seita dos Chassidim elaborou 221 combinações diferentes utilizando as letras do alfabeto e, amassando uma quantidade de barro, tornou possível a criação de um homem, desde que a combinação exata de palavras fosse pronunciada. Para desfazer a criatura, bastava pronunciar as combinações invertidas. Um dos problemas do Golem era que ele crescia muito rapidamente, assumindo proporções de um gigante. Outra aproximação da lenda afirma que ele trazia a palavra emeth (verdade) escrita na testa, e para fazer com que a criatura deixasse de existir era só apagar a primeira letra, transformando a palavra em meth (morte).

As histórias também dizem que Elias de Chelm criou um Golem no século XVI, e que o ser começou a viver quando ele escreveu o nome secreto de deus em sua testa. Outro rabino, que também teria feito um Golem, foi Judah Löw bem Bezalel, de Praga, que o destruiu quando percebeu que ele não parava de crescer.

Algumas versões da lenda afirmam que o Golem era utilizado para realizar serviços domésticos; em outras, suas funções não eram tão superficiais, e o ser andava pelo mundo realizando façanhas e ajudando o povo judeu quando este se encontrava em dificuldades. A versão mais conhecida da lenda é a escrita em forma de ficção por Gustav Meyrink (O Golem, publicado no Brasil pela Ed. Hemus), mas ele também surge na obra de vários autores de literatura fantástica, como E.T.A. Hoffmann e Villiers de l’Isle-Adam, além de algumas adaptações para o cinema.



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Shin  (300)

Taf  (400)



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